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domingo, 31 de janeiro de 2010

Tráfico: a rota do crack em Alagoas

Tráfico, mortes, vício, juventude perdida e famílias esfaceladas. Estes são alguns dos inúmeros problemas ocasionados pela droga, em especial o ‘crack’, que avança de forma assustadora em Alagoas. E, ao contrário do que muitos pensam, segundo a polícia, a entrada dessa droga não é pela capital. Os traficantes descobriram no interior do Estado pontos estratégicos, considerados pelas quadrilhas como indispensáveis para a distribuição do entorpecente. Arapiraca, por exemplo, seria o maior deles, ampliando para cidades circunvizinhas.

Quais os maiores focos, de onde vem a droga, de que forma e quem seriam os ‘cabeças’? Para as polícias Civil (PC) e Militar (PM), na capital alagoana, a parte baixa da cidade sai na frente em concentração de “bocas de fumo”, com destaque para os bairros Bom Parto, Ponta da Terra e Virgem dos Pobres. Os grupos têm áreas delimitadas e criam suas hierarquias. A informação é reforçada pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Militar. Segundo informações do grupo especial, o crack geralmente tem origem em São Paulo, mas o material bruto (a pasta-base da coca) utilizado para a sua fabricação é proveniente da Bolívia e Colômbia. Para a introdução do entorpecente em Alagoas já foram utilizados os meios de transporte aéreo, terrestre e agora, de acordo com a polícia, o marítimo.

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No bairro Vergel do Lago, o traficante Flávio Soares, conhecido no mundo do tráfico como ‘Flávio ceguinho”, é apontado como o líder mais forte e teria feito um organograma para garantir as transações ilícitas. No seu grupo, ele sempre foi o ‘cabeça’, mas já havia determinado os substitutos para casos emergenciais. Logo, com a sua prisão, Erick Cordeiro Cardoso, de acordo com a Polícia Civil, assumiu os negócios escusos.

Com a prisão de Erick, chamado de número ‘02’, e um homem identificado como Getúlio e conhecido como “Dudu” , o número ‘03’, o teria substituído. O número ‘04’, Generino Paulo de Lima, irmão de Genival Paulo de Lima, o “Sassá”, já morto em confronto com policiais do 8º Batalhão, em Pilar, ‘caiu’ antes mesmo de ser acionado para ficar em lugar de alguém. O 5º nome da lista hierárquica do grupo de Flávio é “Nando” que está foragido, mas mesmo assim controlaria o grupo.


A polícia descobriu que o grupo de “Flávio Ceguinho” adquire a droga em São Paulo. Uma carga de crack, que seria entregue a ele, foi interceptada em um caminhão baú, no estado da Bahia, causando-lhe um enorme prejuízo. Para evitar uma nova derrota para a polícia, a droga comprada no Sudeste do Brasil vem agora para Maceió em carros pequenos por meio de transportadoras. “Eles armazenam a droga nos veículos, vão à transportadora que simplesmente faz o seu serviço sem saber o que está dentro do automóvel”, diz um policial da Deic. Flávio foi mandado para Catanduvas, presídio de segurança máxima do Paraná – onde já há uma boa concentração de alagoanos -, mas o seu grupo é mantido fortemente em Maceió. Em sua composição existem homens com várias funções a exemplo de armeiros (que avaliam, compram e limpam as armas); motoristas, contatos etc. Ele também foi identificado entre os criminosos que cometeram assalto à Caixa Econômica da Rua do Sol, o qual resultou nas mortes do chefe do Tático Integrado Grupo de Resgates Especiais (Tigre), agente Anderson Lima, e do vigilante. Ele seria o homem que entregou as armas ao bando.

“É como se fosse uma teia. Os ‘cabeças’ são presos, mas os outros já sabem a forma de agir e seguem a cartilha. Mantêm os fornecedores e também a transação enquanto os chefes retornam. Por isso, dificilmente têm prejuízo”- ressalta o policial.

No bairro Bom Parto, reduto de Charles Gomes de Barros, o “Charlão”, e do “Aranha”, ambos presos- sendo o primeiro na carceragem de um presídio em Sergipe e o outro enviado recentemente a Catanduvas, o domínio é, no momento, também segundo a PC, de um homem conhecido como “Peu” e seu comparsa “Jau”, estes acusados de matar um líder comunitário por tentar combater o tráfico no local. A droga recebida na região teria a mesma origem que a do grupo anterior e serve para abastecer Bebedouro, Chã de Bebedouro e Chã da Jaqueira, além do Clima Bom e Santos Dumont.

Policiais do Serviço de Inteligência do Bope relatam que em Maceió existem os grupos chamados “independentes”. Estes não teriam vínculo com ninguém, adquirem a droga diretamente na base, que seria São Paulo, junto a integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção de Fernandinho Beira-Mar. Um homem cujo apelido é “Prego”, irmão de Ricardo Lourenço, preso na semana passada pelo Bope com pedras de crack, um pouco de cocaína e também de maconha, seria o abastecedor dos bairros Garça Torta, Jacarecica, Ponta da Terra e Jatiúca

“Ele é articulado, aparentemente indefeso, mas perigoso. Vai a São Paulo de avião e traz a droga em ônibus. O Prego movimenta cerca de cem mil reais semanalmente e pode ser enquadrado como grande traficante”- afirma um policial do Bope.



Parte alta de Maceió

Nos bairros da parte alta da capital, os traficantes têm apostado no Benedito Bentes e Village Campestre. De lá, fariam extensão para o Salvador Lyra, Serraria e parte do Barro Duro. A polícia assegura que a droga distribuída por eles vem de Pernambuco também por terra, em caminhões baús e ônibus que são descarregados em chácaras das quais preferiu não revelar, precisamente, os endereços. Os policiais investigadores não entram em detalhes, porém afirmam que a entrega é feita durante grandes festas utilizadas como forma de despistar as polícias. Segundo o Bope, nestas áreas o domínio seria de Júnior Oião (foragido).



“O reflexo do tráfico do crack é grande, ele está em todas as camadas sociais e a quantidade de homicídios é gerada por débito e disputa de território. Talvez se houvesse um trabalho forte de combate paralelo, onde as delegacias especializadas caçassem os cabeças e as distritais os pequenos traficantes, o efeito seria maior ”- afirma o chefe de uma das equipes da Deic.

Já o crack que abastece toda a região do Jacintinho e do Feitosa tem o comando, dizem as polícias, do soldado PM Bruno Salustiano, preso pela Polícia Federal em janeiro deste ano. Ele recebe a droga dos representantes de um homem chamado Paulo Gordo, também preso pela PF e mandado para Catanduvas no Paraná. Salustiano e o seu grupo, segundo as polícias, cumpriam determinações de “Gordo”- ligado a Givanildo Nascimento, do PCC, resgatado do Baldomero Cavalcanti e recapturado pela Deic. Entre as ordens, a de “eliminar pessoas que julgasse atrapalhar o caminho deles, colocasse os negócios em risco”.




Chegada ao interior

O município Arapiraca seria, conforme as polícias Civil e Militar, a primeira parada da droga em Alagoas. Alguns bairros periféricos como o Manoel Teles, Primavera e Cavaco seriam os pontos de recepção. Também foi confirmada movimentação ilícita no bairro Brasília, considerado de nível médio/alto e onde controlariam o tráfico dois homens identificados como “China” e “Lenon”. Um ex-militar, o cabo PM Edilson, da reserva, também é apontado pelos próprios companheiros de farda no envolvimento de ações ilícitas. Ele é dono do bar ‘ED 10’ e teria escapado da última operação desencadeada pela Polícia Civil (em dezembro passado), por meio da Divisão Especial de Investigações e Capturas (Deic) que cumpria paralelamente, naquele município e em Maceió, mandados de busca, apreensão e prisão.

Para Arapiraca, o crack chega por terra, em caminhões ou carros pequenos. Porém, apesar de ser ‘parada obrigatória’ para os comandantes do tráfico no Estado, há a afirmação da polícia que já existe uma migração para as cidades São Sebastião e Teotônio Vilela, principalmente a última. No entanto, até ser recebida em Alagoas, ela faz um grande percurso. Vem de países vizinhos, passa pelo Norte, Centro-Oeste, Sudeste até o destino final que seria o Agreste. De lá para o abastecimento.



Na capital do Agreste, um homem conhecido como “Inha” seria o braço direito de grandes traficantes e dominava a área do Manoel Teles com armazenamento e distribuição de crack. Na rua em que mora foram detectadas 13 ‘bocas de fumo’ e uma grande operação foi desencadeada por policiais do 3º Batalhão no ano passado que tinham em mãos mandados de busca e apreensão. A carga de crack que poderia ter sido encontrada pode ter sido armazenada em outro destino. Mesmo assim “Inha” foi preso.

“Quando houve uma operação do terceiro batalhão em Arapiraca e ele ‘caiu’, ficou sem muito respeito no grupo e perdeu forças. Por essa razão, em seu lugar apareceu Tenório que tem um estabelecimento comercial e seria parceiro de “Pardal”- afirma um policial militar. Ainda segundo a polícia, “Pardal e Tenório teriam planejado a execução do capitão PM Paulo Costa, comandante de uma das companhias do 3º Batalhão.


Tenório dominaria o bairro Manoel Teles, enquanto um rapaz identificado como “Júnior”, o Primavera. A polícia já descobriu, inclusive, que este último disponibiliza a entrega do crack por meio de uma ‘prestação de serviço’, a qual anuncia como ‘disk crack’.

“Para evitar a movimentação em um ponto fixo, ou boca de fumo, o acusado usa motocicletas para a entrega em domicílio”- garante um oficial.

Por outro lado, alguns traficantes mantêm a tradição e não abandonaram a droga ilícita que um dia já esteve no auge: a maconha. O entorpecente, que chega ao Agreste, de acordo com investigações policiais, tem origem em Sergipe e também nos municípios pernambucanos Águas Belas e Floresta. No momento, há uma descoberta em comum feita pelas polícias. A de que o trafico ‘forte’ de drogas se desloca de Arapiraca e migra rumo aos municípios São Sebastião (concentração menor) e Teotônio Vilela, que ficam ao lado, além de se estender a São Miguel dos Campos. As cargas de crack acomodadas pelos traficantes nestas cidades seriam responsáveis pelo abastecimento de toda Zona da Mata, Agreste e Litoral Sul de Alagoas, afirma a polícia.

Nessa nova área selecionada (S. Sebastião, São Miguel e Teotônio), pessoas já estão no cadastro das unidades policiais, tanto em Maceió, como no interior, apontadas como ‘manda-chuva’. Entre elas um fazendeiro que, pelos levantamentos, usaria suas terras em Teotônio Vilela, para um plantio disfarçado de maconha e também teria uma refinaria de cocaína. O nome e outros pormenores a respeito do suspeito a polícia diz que não revela pelo menos por enquanto.

Na semana passada, uma operação da Polícia Federal tirou de circulação mais de 700 quilos de maconha na região de São Miguel dos Campos. Uma quadrilha foi presa e o condutor da carreta afirmou ao delegado federal Daniel Coraça que a droga seria entregue a um homem identificado como “Alemão”. Também foi descoberto há pouco tempo pela DRN que um ‘ex’ integrante do grupo de “Júnior Oião”, um homem conhecido como “Bizu”, estaria comandando o tráfico em boa parte do Litoral Norte, recebendo a droga por mar em Jequiá da Praia.

“Ele percebeu que o cerco foi fechado, desligou-se mais do grupo, onde era o terceiro homem, depois de Marcelo Matias e Júnior Oião, e foi tentar a independência em outro lugar. O método utilizado, ou seja, o recebimento do crack em embarcações seria facilitado, pois sabem que as polícias não têm instrumentos para coibir o tráfico por água”- enfatiza um agente do serviço de inteligência da Polícia Civil.


Os fornecedores

Como os traficantes, os homens que infiltram o crack em Alagoas também brigam pela manutenção do espaço e domínio no fornecimento. Aqui, dois nomes se destacaram e fizeram grandes clientes. Oswaldo, o Coroa, teria sido o mentor, trouxe pela primeira vez a droga para o estado e aliciou muita gente. Depois Paulo Gordo começou a abrir caminho e a fazer história no mundo negro do tráfico de drogas, todos vinculados a Francisco Reinaldo, o químico que foi preso com seis quilos de pasta de coca no aeroporto Zumbi dos Palmares, fugiu pela porta da frente do presídio Baldomero Cavalcanti e foi recapturado no Feitosa pelo Bope usando documento falso. É considerado traficante internacional perigoso e não admite ser enganado.



Uma das provas, segundo agentes da Delegacia de Repressão ao Narcotráfico (DRN) foi a execução do mineiro Luiz Cláudio no bar Confraria do Rei, no Poço. Luiz Cláudio seria o distribuidor forte (vendedor) de Reinaldo, que tem a fama de enviar para Alagoas a melhor droga (crack de qualidade). Porém, teria sido ‘passado para trás’ por Luiz Cláudio que estaria trocando o produto e deixando a sua ‘clientela’ insatisfeita, fazendo inúmeras reclamações. Francisco Reinaldo juntamente com outros comparsas resolveu eliminá-lo. Ele é fornecedor do grupo de Charlão e também ligado a um homem conhecido como “Maiki” que é do Mato Grosso do Sul.



Quantidade

O crack tem entrado em Alagoas ‘de carrada’, diz a polícia. Os fornecedores deixam os grandes clientes à espera do produto, atendendo a pedidos estipulados, e estes redistribuem com os seus ‘gerentes’.Cada um fica responsável por uma ‘boca de fumo’, recebe cerca de 20 a 30 quilos e tem a incumbência de acompanhar a comercialização, arrecadar e repassar o dinheiro. Quando foi preso pela última vez Francisco Reinaldo aguardava 200 kg de crack, parte de uma tonelada que iria distribuir em Maceió. A casa onde foi encontrado, no bairro Feitosa, estava sendo organizada para acomodar a droga que chegaria durante a madrugada. Informações ainda não oficializadas garantiram à Polícia Civil que cinco toneladas desembarcaram em Arapiraca há poucos dias.

Além dos fornecedores, dos grandes traficantes e gerentes, garante um agente da DRN, ainda existem os homens denominados no grupo como “os corres” - que pegam a droga em um canto para vender em outro-, a exemplo de Marcos Floriano flagrado com meio quilo de crack pela Radiopatrulha no Tabuleiro. Estes já teriam suas mulas que fazem o mesmo trabalho só que em quantidade menor de droga.


DRN

O delegado Ronilson Medeiros, chefe da DRN, confirma tudo o que já foi mencionado. Fala da evolução galopante da comercialização ilícita do crack em Alagoas e faz uma ressalva. “As nossas divisas deveriam ser melhor fiscalizadas. O tráfico cresce a cada dia e mesmo com alguns chefões presos e retirados do estado, ele é mantido. Fortemente mantido. A prova disso é que todos os dias prisões são feitas de pessoas com crack, droga que predomina”- diz o delegado Medeiros.

Apesar das tantas atuações e de garantir que tem uma boa equipe de investigação, Ronilson Medeiros acha que a especializada deveria ter uma estrutura melhor para desenvolver suas atividades.

“A sociedade já viu alguns resultados com nosso trabalho. Espero que em dois mil e dez a nossa delegacia seja vista com uma atenção maior para que possamos continuar e mostrar mais números no combate ao tráfico em Maceió”. Mesmo sendo implantada com este objetivo, a DRN só atua na capital.

O que diz Barenco

O delegado-geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco, conceitua o crack como “o mal da humanidade” e diz que muitos trabalhos de repressão já foram feitos. Mas, reconhece que há a necessidade de maior investimento no combate ao tráfico de drogas no Estado.

“Já existe um projeto de transformar a DRN em departamento com mais estrutura e capacidade de atuar em todo estado. O problema é sério, já tiramos de circulação muitos traficantes, mas com eles presos sobrevive à hierarquia”- diz Barenco.

Quanto à coibição, uma maneira específica de combater o mal na origem, por exemplo, um trabalho mais forte nas fronteiras, ele é enfático. “Essa atribuição é restrita da Polícia Federal. A nossa é de natureza complementar, a repressão local”- conclui o chefe da Polícia Civil.

Polícia Federal

O chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal (PF), delegado Daniel Coraça Júnior, fala dos registros da instituição e dá seu parecer sobre a introdução do crack no Estado. Ele também aponta São Paulo como um dos maiores pontos de origem do entorpecente que vem para Alagoas.

O delegado disse ainda que os grupos são estratégicos e que a cocaína, por exemplo, sai direto da Bolívia. “Ela vem para o Brasil em forma de pasta-base, o que não é tão caro, e aqui acontece o processo de refinamento”- explica.

Em uma das prisões feitas pela PF, um homem identificado como Rodrigo Penha, trazia do Mato Grosso do Sul 15 quilos de pasta de coca o que depois de refinada renderia 60 quilos de crack, o que poderia render cerca de R$ 300 mil. Quanto à maconha, diz o delegado, a que costuma desembarcar aqui é paraguaia e o método de introdução é o rodoviário.

Sobre o combate nas fronteiras, incumbência da Polícia Federal, ele afirma ser forte e permanente. Porém, explica Coraça, os grandes traficantes montam esquemas que mesmo com todo o aparato policial “ainda conseguem passar drogas para o Brasil”. O delegado federal ressalta que a instituição trabalha com dois métodos, o educativo e o repressivo, no entanto, entende que a proliferação dos entorpecentes em Alagoas está associada à miséria.

“É muita vulnerabilidade social. Por todos os lugares enxergamos miséria. As pessoas não têm oportunidade de emprego, isso, lógico que não justifica, mas facilita, provoca. É só procurarmos os dados socioeconômicos que temos o resultado. Se em Maceió retirarmos a faixa do litoral, o restante é cercado de muita pobreza”- enfatiza Coraça.

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